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1.2.2 - Para Além do Bem e do Mal - Nietzsche - Estudo do livro













CAPITULOS - PARTE 1

  • PRIMEIRA PARTE : OS PRECONCEITOS DOS FILÓSOFOS

  • SEGUNDA PARTE: O ESPÍRITO LIVRE

  • TERCEIRA PARTE: O FENÔMENO RELIGIOSO


TÓPICOS DAS PRINCIPAIS IDÉIAS APRESENTADAS NESTE TRECHO DE ESTUDOS

Neurose Religiosa e Práticas Ascéticas

  1. Associação com Solidão, Jejum e Castidade:

    • Nietzsche observa que a neurose religiosa frequentemente se associa a práticas como solidão, jejum e castidade.

    • No entanto, ele questiona se essas práticas são causa ou efeito da neurose, ou se há uma relação direta de causa e efeito.

  2. Volúpia e Fanatismo:

    • As práticas ascéticas podem resultar em uma busca desenfreada por prazer (volúpia).

    • Esta busca pode rapidamente se transformar em fanatismo religioso e renúncia ao mundo e à vontade.

  3. Epilepsia Oculta?:

    • Nietzsche levanta a hipótese de uma epilepsia oculta como possível explicação para a neurose religiosa.

    • Ele alerta contra definições precipitadas, destacando o histórico de absurdos e superstições em torno do tema.

    • Recomenda uma abordagem mais fria e distanciada para estudar esses fenômenos.


Crítica a Schopenhauer e Wagner
  1. Crise e Despertar Religioso:

    • Schopenhauer e Wagner foram influenciados por crises e despertares religiosos, especialmente a ideia de negação da vontade.

    • Nietzsche considera que a transformação do "mal" em "santo" é vista como um "milagre", mas na verdade é uma má interpretação psicológica.

  2. Interpretações Errôneas:

    • A psicologia, ao se submeter à moralidade, introduziu interpretações errôneas nos fenômenos religiosos.

    • Isso comprometeu a verdadeira compreensão desses fenômenos.


Comparação das Atitudes Religiosas

  1. Latinos vs. Nórdicos:

    • Latinos têm um catolicismo profundamente enraizado, e a incredulidade é vista como uma revolta contra o espírito da raça.

    • Os nórdicos, de origem bárbara, não têm um espírito religioso forte. Exceção são os celtas, que facilitaram a propagação do cristianismo no norte.

  2. Crítica à Sociologia e Literatura Francesa:

    • Nietzsche critica sociólogos e literatos franceses como Auguste Comte, Saint Beuve e Ernesto Renan.

    • Apesar de céticos, eles carregam resquícios de catolicismo, algo estranho para os povos do norte.


Religiosidade Grega e Cristianismo

  1. Religiosidade Grega:

    • A religião dos antigos gregos exalava gratidão e pertencia a uma espécie aristocrática.

    • Com a preponderância da plebe na Grécia, o temor invadiu a religião, preparando o caminho para o Cristianismo.

  2. Diferenças no Amor a Deus:

    • O amor a Deus no protestantismo, especialmente em Lutero, é descrito como rústico e sem delicadeza, contrastando com a delicadeza meridional.

    • Exemplos como Santo Agostinho mostram um êxtase oriental e falta de modos aristocráticos.


A Influência do Antigo e Novo Testamento

  1. Antigo Testamento:

    • Descrito como grandioso, com personagens e discursos de estilo imponente.

    • Comparado desfavoravelmente com a literatura grega e hindu.



    • Novo Testamento:

      • Visto como uma adição que suavizou o rigor do Antigo Testamento, criando uma obra literária com características rococó.


Ateísmo e Filosofia Moderna

  1. Declínio do Teísmo:

    • A figura de Deus como pai, juiz e remunerador foi refutada.

    • O ensino teístico está desacreditado, mas o instinto religioso permanece forte.

  2. Crítica ao Conceito de Alma:

    • Desde Descartes, a filosofia moderna atacou o conceito de alma, criticando o sujeito e o predicado.

    • Kant tentou demonstrar que o sujeito individual, ou a alma, pode ser uma existência aparente.


Esses pontos são fundamentais para entender a visão de Nietzsche sobre a relação entre neurose religiosa e práticas ascéticas, sua crítica a Schopenhauer e Wagner, e suas observações sobre atitudes religiosas entre diferentes povos, bem como a influência do Antigo e Novo Testamento e o impacto da filosofia moderna no conceito de alma e teísmo.


Vamos explorar cada um deles.





Associação entre Neurose Religiosa e Ascetismo

Nietzsche sugere que práticas como solidão, jejum e castidade estão frequentemente ligadas à neurose religiosa. Em "Além do Bem e do Mal", ele explora como essas práticas podem gerar estados mentais intensos e transformadores, mas também perigosos. Ele descreve o ascetismo como uma forma de autossabotagem que, paradoxalmente, pode levar à autoidolatria e ao fanatismo.


  1. Solidão:

    • A solidão é vista por Nietzsche como uma arma de dois gumes. Por um lado, ela pode levar à profundidade de pensamento e auto-reflexão; por outro, pode isolar o indivíduo a ponto de distorcer sua percepção da realidade e fomentar neurose.

    • Ele argumenta que os religiosos que se isolam tendem a ter visões e experiências que interpretam como divinas, mas que podem ser, na verdade, manifestações de sua própria psique perturbada.


  2. Jejum:

    • O jejum é outra prática ascética que Nietzsche considera problemática. Ele pode induzir estados alterados de consciência, que são frequentemente interpretados como experiências espirituais.

    • Nietzsche sugere que o jejum pode enfraquecer o corpo e a mente, tornando o indivíduo mais suscetível a ilusões e delírios.


  3. Castidade:

    • A castidade é vista por Nietzsche como uma repressão antinatural dos instintos sexuais, que pode levar à obsessão e à compulsão.

    • Ele observa que a castidade forçada frequentemente resulta em uma hipersensibilidade aos prazeres sensuais, transformando-se rapidamente em fanatismo e auto-renúncia.


Crítica a Schopenhauer e Wagner


Influência das Crises e Despertares Religiosos

Nietzsche critica Schopenhauer e Wagner por suas filosofias estarem profundamente influenciadas por crises e despertares religiosos. Ele sugere que suas obras foram moldadas pela ideia de negação da vontade, um conceito central no pensamento de Schopenhauer.


  1. Schopenhauer e a Negação da Vontade:

    • Schopenhauer argumenta que a única forma de escapar do sofrimento inerente à existência é através da negação da vontade. Essa ideia é influenciada por conceitos budistas e ascéticos.

    • Nietzsche vê essa negação como uma forma de autonegação, uma rejeição da vida e dos instintos naturais, que ele considera fundamentalmente pessimista e contraproducente.

  2. Wagner e a Transformação:

    • Wagner, como discípulo de Schopenhauer, incorpora essa ideia em sua obra, especialmente nas óperas onde personagens passam por transformações dramáticas que refletem a negação da vontade.

    • Nietzsche inicialmente admirou Wagner, mas depois criticou a forma como Wagner romantizou e teatralizou essas transformações, vendo nelas uma glorificação do sacrifício e da renúncia.


Má Interpretação e "Milagre"

Tanto Schopenhauer quanto Wagner ficaram fascinados pela transformação do "mal" em "santo". Ele vê esse fenômeno como uma má interpretação dos processos psicológicos envolvidos.

  1. Fenômeno de Santidade:

    • A transformação do "mal" em "santo" é frequentemente vista como um "milagre". Nietzsche argumenta que isso é uma falha na compreensão psicológica, uma idealização romântica que distorce a realidade.

    • Ele vê esses "milagres" como resultados de pressões psicológicas e sociais, não como transformações genuínas.

  2. Falhas na Compreensão Psicológica:

    • Nietzsche critica a psicologia por se submeter à moralidade tradicional, que impõe uma visão dualista do bem e do mal.

    • Ele acredita que essa submissão leva a interpretações errôneas dos fenômenos religiosos, comprometendo a verdadeira compreensão dos processos psicológicos envolvidos.


Psicologia Submetida à Moralidade

Introdução de Interpretações Errôneas

A psicologia, ao se submeter à moralidade, introduziu interpretações errôneas dos fenômenos religiosos. Isso comprometeu a capacidade de compreender verdadeiramente esses fenômenos.

  1. Submissão à Moralidade:

    • Ele critica a moralidade tradicional por impor uma estrutura rígida de valores que distorce a interpretação dos fenômenos humanos.

    • A psicologia, ao adotar essas estruturas morais, perde sua objetividade e se torna incapaz de analisar os fenômenos religiosos de forma imparcial.

  2. Erro na Interpretação dos Fenômenos Religiosos:

    • Nietzsche vê a moralidade como uma ferramenta de controle que distorce a percepção da realidade. Ele acredita que a psicologia, ao adotar esses preceitos morais, perpetua esses erros.

    • Ele chama a atenção para a necessidade de uma psicologia que esteja livre das imposições morais, capaz de analisar os fenômenos humanos com clareza e objetividade.


Proposta de uma Nova Psicologia

Psicologia Sem Moralidade

Proposta uma nova abordagem para a psicologia, uma que esteja livre das influências morais tradicionais. Ele acredita que apenas através de uma análise objetiva e desapegada é possível compreender verdadeiramente os fenômenos religiosos e humanos.

  1. Objetividade e Desapego:

    • Ele defende uma psicologia que analisa os fenômenos humanos de forma fria e distanciada, sem se deixar influenciar por preconceitos morais.

    • Essa abordagem permite uma compreensão mais profunda e verdadeira dos processos psicológicos e das motivações humanas.

  2. Rejeição do Dualismo Moral:

    • Nietzsche rejeita o dualismo moral de bem e mal, argumentando que ele simplifica e distorce a complexidade da experiência humana.

    • Ele propõe uma visão mais nuançada, que reconhece a ambivalência e a multifacetada natureza dos instintos e das ações humanas.


Nietzsche desafia as concepções tradicionais de moralidade e psicologia, criticando Schopenhauer e Wagner por suas visões influenciadas por crises religiosas e sugere que suas interpretações são fundamentalmente falhas.


Argumenta ainda que a verdadeira compreensão dos fenômenos religiosos só pode ser alcançada através de uma psicologia objetiva e desapegada das imposições morais, uma psicologia que reconheça a complexidade e a ambivalência da experiência humana.


Comparação das Atitudes Religiosas entre Latinos e Nórdicos

Raças Latinas e Catolicismo

Nietzsche observa que os povos latinos, especialmente aqueles fortemente influenciados pelo catolicismo, têm uma atitude particular em relação à incredulidade.

  1. Catolicismo e Espírito da Raça:

    • Nietzsche sugere que, para os latinos, o catolicismo está profundamente enraizado na cultura e na identidade nacional. A incredulidade, portanto, é vista não apenas como uma rejeição da religião, mas como uma revolta contra a própria essência cultural e espiritual do povo.

    • Essa perspectiva implica que a fé católica não é apenas uma crença individual, mas um componente central da coesão social e identidade coletiva.

Povos Nórdicos e Origem Bárbara

Em contraste, Nietzsche sugere que os povos do norte da Europa, com suas origens bárbaras, não possuem um espírito religioso tão forte quanto os latinos.

  1. Espírito Bárbaro e Religião:

    • Ele argumenta que os nórdicos, devido às suas raízes bárbaras, têm uma relação mais distanciada com a religião organizada. A ausência de uma longa tradição de um sistema religioso centralizado como o catolicismo resulta em uma menor integração da religião na identidade cultural.

    • Nietzsche usa os celtas como exemplo, destacando que eles forneceram um terreno fértil para o cristianismo no norte, sugerindo que a aceitação do cristianismo entre os celtas foi mais um fenômeno cultural do que uma adesão a uma fé religiosa profundamente enraizada.


Crítica à Sociologia e Literatura Francesa

Auguste Comte, Saint Beuve e Ernesto Renan

Nietzsche critica a sociologia de Auguste Comte e a literatura de Saint Beuve e Ernesto Renan, observando que, apesar de serem céticos, ainda carregam um forte resquício de catolicismo.

  1. Resquícios de Catolicismo:

    • Nietzsche aponta que, mesmo em suas tentativas de ceticismo e racionalismo, esses autores franceses não conseguem se desvencilhar completamente das influências do catolicismo. Ele vê isso como um indicativo do quão profundamente enraizado o catolicismo está na cultura latina.

    • Isso cria uma tensão e uma sutileza em suas obras, onde os autores, mesmo ao tentar criticar ou se afastar da religião, acabam refletindo aspectos da tradição católica em suas perspectivas e narrativas.

  2. Sociologia de Auguste Comte:

    • Comte, conhecido por seu positivismo, tentou criar uma "religião da humanidade" baseada na ciência e na razão. No entanto, Nietzsche argumenta que essa tentativa é, em si, um reflexo da necessidade profundamente enraizada de um sistema de crença estruturado, similar ao catolicismo.

    • A crítica de Nietzsche sugere que a estrutura de Comte ainda se baseia em princípios que são, em última análise, derivados da tradição religiosa que ele pretendia substituir.

  3. Literatura de Saint Beuve e Ernesto Renan:

    • Saint Beuve e Renan, ambos críticos e historiadores literários, são vistos por Nietzsche como exemplos de intelectuais que, apesar de sua ceticismo, não conseguem se libertar totalmente das influências do catolicismo.

    • Renan, por exemplo, em seus estudos sobre a vida de Jesus, tenta apresentar uma visão secular e histórica, mas Nietzsche observa que ele ainda carrega um respeito e uma reverência que são, em essência, católicas.


Diferenças Regionais nas Atitudes Religiosas

Sutis Tensões e Dinâmicas

Nietzsche destaca as diferenças nas atitudes religiosas entre as culturas latinas e nórdicas, sugerindo que essas variações refletem diferenças profundas nas histórias e nas psicologias coletivas desses povos.

  1. Latinos e a Incredulidade como Revolta:

    • Para os latinos, a incredulidade é vista como uma traição ao espírito da raça, indicando uma forte ligação entre identidade cultural e religiosa.

    • Essa perspectiva cria uma resistência significativa contra a secularização e a crítica religiosa, tornando mais difícil para os intelectuais latinos se libertarem completamente da influência católica.

  2. Nórdicos e a Menor Integração Religiosa:

    • Nos povos nórdicos, a menor integração da religião na identidade cultural permite uma maior flexibilidade e uma aceitação mais fácil do ceticismo e da secularização.

    • Nietzsche vê essa diferença como um reflexo da história e das origens bárbaras dos nórdicos, que não possuem a mesma profundidade de tradição religiosa centralizada que os latinos.



Nietzsche, utiliza as comparações entre as atitudes religiosas dos latinos e dos nórdicos para ilustrar como as tradições culturais e históricas influenciam profundamente as perspectivas individuais e coletivas sobre a religião e a incredulidade. Ele critica os intelectuais franceses por não conseguirem se libertar completamente das influências católicas, mesmo em suas tentativas de ceticismo.


Para ele, a verdadeira compreensão dos fenômenos religiosos requer uma análise desapegada das imposições morais e culturais, permitindo uma visão mais clara e objetiva da complexidade da experiência humana.



Antigo Testamento

Grandiosidade e Estilo Imponente

Nietzsche vê o Antigo Testamento como uma obra de grandeza singular, repleta de personagens e discursos que exalam uma imponência inigualável. Ele compara essa grandiosidade desfavoravelmente com a literatura grega e hindu, ressaltando que o Antigo Testamento possui um estilo único que inspira terror e respeito.

Características Principais

  1. Justiça Divina: O Antigo Testamento é visto como o livro da justiça divina, onde os atos de Deus são frequentemente associados à retribuição justa e severa.

  2. Personagens Poderosos: As figuras bíblicas são descritas com um estilo grandioso que, segundo Nietzsche, nenhuma outra literatura consegue igualar. Eles são retratados como seres de grande poder e autoridade, que impõem respeito e temor.

  3. Impacto Cultural: A influência do Antigo Testamento na cultura e na moralidade ocidental é profunda. Nietzsche reconhece seu papel na formação dos conceitos de justiça e poder.


Novo Testamento

Adição Suavizadora

O Novo Testamento, segundo Nietzsche, suaviza o rigor e a severidade do Antigo Testamento, introduzindo elementos que ele descreve como "rococó". Este termo sugere uma ornamentação e uma delicadeza que contrastam com a austeridade do Antigo Testamento.

Características Principais

  1. Livro da Graça: Enquanto o Antigo Testamento é o livro da justiça divina, o Novo Testamento é visto como o livro da graça, enfatizando o perdão e a misericórdia.

  2. Contraste com o Antigo Testamento: Nietzsche acredita que o Novo Testamento dilui a grandiosidade do Antigo Testamento. Ele vê essa adição como uma espécie de suavização que, embora torne a Bíblia mais acessível e palatável para os cristãos modernos, também introduz um elemento de adocicamento e domesticação.

  3. Rococó Literário: O uso do termo "rococó" por Nietzsche implica que o Novo Testamento é mais ornamental e menos austero, o que ele vê como uma espécie de degradação do poder e da majestade presentes no Antigo Testamento.


A Influência Combinada dos Testamentos

Temeridade Literária

Nietzsche considera a junção do Antigo e do Novo Testamento como a maior "temeridade" ou "pecado contra o espírito" da literatura europeia. Ele vê essa combinação como uma tentativa imprudente de unificar dois estilos e mensagens radicalmente diferentes em um único volume, criando um "livro por excelência" que, em sua opinião, resulta em uma obra incoerente e comprometida.

Impacto na Filosofia e na Cultura

Para Nietzsche, essa combinação influencia profundamente a filosofia e a cultura ocidentais. A dualidade entre justiça e graça, severidade e suavidade, poder e submissão, molda a moralidade e a visão de mundo dos indivíduos e das sociedades influenciadas pelo cristianismo.



Em "Para Além do Bem e do Mal", Nietzsche oferece uma crítica contundente da junção do Antigo e do Novo Testamento, vendo-a como uma diluição da grandiosidade e do poder do Antigo Testamento por meio da ornamentação e suavização do Novo Testamento. Ele acredita que essa junção compromete a pureza e a força do pensamento religioso e moral, influenciando negativamente a filosofia e a cultura ocidentais. Para Nietzsche, entender essa dinâmica é crucial para superar as limitações impostas pela moralidade cristã e avançar para uma nova era de pensamento filosófico e cultural.


Declínio do Teísmo

Refutação da Figura de Deus

A figura tradicional de Deus – como pai, juiz e remunerador – foi refutada no pensamento moderno. Esta imagem, central na teologia tradicional, perdeu sua autoridade e credibilidade com a crítica racional e filosófica.


Desacreditação do Ensino Teístico

O ensino teístico, que sustenta a existência de um Deus que julga e recompensa, está desacreditado no contexto da filosofia moderna. Embora as instituições religiosas ainda existam, a base teológica sobre a qual foram construídas está corroída pela crítica.


Persistência do Instinto Religioso

Apesar da refutação teórica do teísmo, o instinto religioso permanece forte. Este instinto é uma parte intrínseca da natureza humana que não pode ser facilmente eliminado, mesmo com a desintegração das crenças teísticas tradicionais.


Crítica ao Conceito de Alma

Ataques desde Descartes

Desde o advento do pensamento cartesiano, a filosofia moderna tem atacado vigorosamente o conceito tradicional de alma. Descartes introduziu uma dualidade entre mente e corpo, mas também abriu o caminho para questionamentos mais profundos sobre a natureza do "eu" e da consciência.


Crítica ao Sujeito e Predicado

A filosofia moderna critica os conceitos de sujeito e predicado. Isso se refere à análise de como a linguagem e o pensamento estruturam a realidade. A ideia de que o "eu" (sujeito) é o centro de experiências e ações é colocada em xeque, abrindo caminho para a desconstrução do conceito de uma alma estável e imutável.


Tentativa de Kant

Em sua "Crítica da Razão Pura", Kant tenta mostrar que o sujeito individual, ou a alma, pode ser uma existência aparente. Ele introduz a ideia de que o que chamamos de "eu" é, na verdade, uma construção fenomenal, algo que aparece para nós, mas cuja verdadeira essência não pode ser diretamente conhecida.


Declínio do Teísmo e Filosofia Moderna

Impacto na Moralidade

A refutação da figura de Deus e a crítica ao conceito de alma são vistas como parte de um processo maior de transformação moral. Sem a autoridade divina, a moralidade precisa ser reavaliada a partir de novas bases, mais seculares e humanistas. Essa transformação é essencial para libertar o potencial humano das restrições impostas por antigas crenças teológicas.


Persistência da Necessidade Espiritual

Mesmo com a queda do teísmo tradicional, a necessidade espiritual persiste. Esta necessidade pode ser redirecionada para novos valores e significados que não dependem de uma divindade transcendental. Esta transformação é crucial para superar o niilismo e criar novos ideais que possam guiar a humanidade.

 









 

"Terminei por acreditar que a maior parte do pensamento consciente deve incluir-se entre as atividades instintivas sem se excetuar a pensamento filosófico. Cheguei a essa idéia depois de examinar detidamente o pensamento dos filósofos e de ler as suas entrelinhas. Ante esta perspectiva será necessário revisar nossos juízos a esse respeito, como já o fizemos a respeito da hereditariedade e as chamadas qualidades 'inatas'.


Assim como o ato do nascimento tem pouca importância relativamente ao processo hereditário, assim também o "consciente" não se opõe nunca de modo decisivo ao instintivo. A maior parte do pensamento consciente de um filósofo está governada por seus instintos e forçosamente conduzido por vias definidas.


Atrás de toda lógica e da aparente liberdade de seus movimentos, há valorações, ou melhor, exigências fisiológicas impostas pela necessidade de manter um determinado gênero de vida. Daí a idéia, por exemplo, de que tem mais valor o determinado que o

indeterminado, a aparência menos valor que a "verdade".


Apesar da importância normativa que tem para nós, tais juizes poderiam ser apenas superficiais, uma espécie de tolice, necessária para a conservação de seres como nós.

Naturalmente, aceitando que o homem não seja, precisamente, a "medida das coisas”.


(...)

O que nos incita a olhar todos os filósofos de uma só vez, com desconfiança e troça, não é porque percebemos quão inocentes são, nem com que facilidade se enganam repetidamente. Em outras palavras, não é frívolo nem infantil indicar a falta de sinceridade com que elevam um coro unânime de virtuosos e lastimosos protestos quando se toca, ainda que superficialmente, o problema de sua sinceridade.


Reagem com uma atitude de conquista de suas opiniões através do exercício espontâneo de uma dialética pura, fria e impassível, quando a realidade demonstra que a maioria das vezes apenas se trata de uma afirmação arbitrária, de um capricho, de uma intuição ou de um desejo intimo e abstrato que defendem com razões rebuscadas durante muito tempo e, de certo modo, bastante empíricas.


O que nos incita a olhar todos os filósofos de uma só vez, com desconfiança e troça, não é porque percebemos quão inocentes são, nem com que facilidade se enganam repetidamente. Em outras palavras, não é frívolo nem infantil indicar a falta de sinceridade com que elevam um coro unânime de virtuosos e lastimosos protestos quando se toca, ainda que superficialmente, o problema de sua sinceridade.



Ainda que o neguem, são advogados e freqüentemente astutos defensores de seus preconceitos, que eles chamam "verdades". E ainda que não o creiam, estão muito longe de possuir o heroísmo próprio da consciência que se confessa a si mesma sua mentira, isto é, muito longe do valor que se deseja ouvir, seja para advertir um amigo ou para colocar em guarda o inimigo ou para burlar a si mesmo.


A hipocrisia rígida e virtuosa com que o velho Kant nos leva por todas as veredas de sua dialética para nos induzir a aceitar seu imperativo categórico, é um espetáculo que nos faz sentir o imenso prazer de descobrir as pequenas e maliciosas sutilezas dos velhos moralistas e dos pregado. res. Somemos a tudo isso o malabarismo, pretensamente matemático, com que Spinoza termina por escudar e mascarar sua filosofia, tratando de intimidar assim, desde o princípio, a audácia do assaltante que se atreve a pôr os olhos numa virgem invencível: Palas Atenéia.


Como se pode ver através de tão pequeno broquei e inútil máscara, a timidez e a vulnerabilidade de um ente doente e solitário.



Passo a passo, fui descobrindo que até o presente, em toda grande filosofia, encontram-se enxertadas não apenas a confissão espiritual, mas suas sutis "memórias", tanto se assim o desejou seu autor quanto se não se apercebeu disso. Mesmo assim, observei que, em toda filosofia, as intenções morais (ou imorais) constituem a semente donde nasce a planta completa.


Com efeito, se queremos explicar como nasceram realmente as afirmações metafísicas mais transcendentes de certos filósofos, seria conveniente perguntar-nos, antes de tudo: A que moral querem conduzir-nos? A resposta, a meu ver, é que não se pode crer na existência de um "instinto do conhecimento", que seria o pai da filosofia. Pelo contrário, acredito que outro instinto tenha se servido do conhecimento (ou do desconhecimento) como instrumento.


Porém, se examinássemos os instintos fundamentais no homem, no intento de saber até que ponto os filósofos puderam divertir-se em seu papel de gênios inspiradores (de daimons ou de duendes), veríamos que todos fizeram filosofia um dia ou outro, e que cada um deles considera sua filosofia como fim único da existência, como dona legítima dos demais instintos. Pois não é menos certo que todo instinto quisesse chegar ao predomínio e, enquanto tal, aspira a filosofar.


Pode, entretanto, acontecer de outro modo, inclusive "melhor" se se desejar, entre os sábios, entre os espíritos verdadeiramente científicos, porque, penso, talvez haja neles algo parecido ao instinto do conhecimento, algo parecido a uma pequena peça de relojoaria independente que, bem montada, cumpra sua tarefa sem que os demais instintos do sábio participem dela de modo essencial.








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