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1.2.4 - Edgar Morin e o pensamento complexo e o Perpsectivismo de Nietzsche



Problemas precisam de respostas que consideram as diversas áreas do conhecimento. Entenda o que propõe o pensador francês


Considerado um humanista planetário, Edgar Morin é autor da epistemologia da complexidade, que surge na década de 60. Do latim, Complexus: o que é tecido junto. O pensamento complexo é um tipo de pensamento, oriundo dessa teoria, que questiona o paradigma da razão e a ciência como único modo de interpretar a realidade. Busca religar os conhecimentos dispersos e integrar cultura científica e cultura humanística. Ou seja, na complexidade “tudo se liga a tudo”. Como o próprio autor afirma no livro Ciência com consciência: “A ciência nunca teria sido ciência se não tivesse sido transdisciplinar”.



O ser humano é complexo pois concentra múltiplas perspectivas: é social, econômico, político, psicológico. É um ser de sabedoria e de loucura.


A complexidade segue uma tetralógica de ordem, desordem, interações, organização. São fases a que os sistemas se submetem, principalmente os seres vivos. Os humanos vivem também o trinômio sociedade, indivíduo, espécie, já que cada componente está no outro, de maneira hologramática, recursiva e dialógica, como é o nosso pensamento: parte no todo e todo na parte, ação que gera outra ação e retroage, sucessivamente e, opostos e complementares. É na dialógica que as contradições não se resolvem, e o conflito permanece, como vida-morte; sabedoria-loucura.



Enfrentamentos atuais

Trata-se de um pensamento atual que busca enfrentar os desafios de sociedades cada vez mais complexas. Não se pode mais responder às indagações do cotidiano multidimensional e imprevisível de maneira fragmentada ou disciplinar. Os problemas precisam de respostas que consideram as diversas áreas do conhecimento.


Em épocas de policrise – que se colocam nas diversas áreas e sociedades – como as atuais, é que mais precisamos de um pensamento complexo, de religação. Em momentos adversos como estes de pandemia, precisamos unir prosa – as ações rotineiras do trabalho do dia a dia, à poesia – a metáfora, o imaginário, a alegria da vida. Por isso, cada vez mais, a complexidade é atual e necessária para se enfrentar as incertezas da vida.


Quem é Morin

Filósofo, sociólogo, antropólogo, o pensador francês Edgar Morin nasceu em Paris e completou recentemente 100 anos. Em 1999, foi convidado pela Unesco para pensar a educação do novo milênio. Elaborou, então, um conjunto de reflexões que circulou entre educadores dos diversos pontos do globo para verificações e complementações. Ao final, o documento foi publicado em formato de livro, intitulado Os sete saberes necessários à educação do futuro. Não são saberes curriculares, mas conhecimentos que a escola deve levar em conta. São eles: As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusãoOs princípios do conhecimento pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as incertezas; Ensinar a compreensão; A ética do gênero humano.


pós duas décadas, o livro é muito atual, e os saberes indicados, cada vez mais importantes ao universo educacional, em todos os níveis e graus de ensino.



Outro livro do pensador, igualmente importante, foi publicado no Brasil no mesmo ano 2000: A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, que trata de mostrar, como já sinalizava o filósofo Montaigne, que mais vale uma cabeça bem feita que seleciona e contextualiza os saberes do que uma cabeça bem cheia que acumula e empilha saberes, como que em uma prateleira. Nesse livro, aponta para a urgência da reforma do pensamento, do linear ao complexo. Várias de suas obras sobre educação foram publicadas no Brasil, nos últimos anos.



Mensagem de esperança

Ao longo de sua obra, Edgar Morin nos convida a estabelecer uma política de civilização planetária e a educação é uma brecha para essa construção. Ele diz que precisamos de uma nova via para o futuro da humanidade, que compreende amor, fraternidade e a regeneração do humanismo. Nos faz renunciar ao melhor dos mundos, mas não desistir de um mundo melhor. Cada um pode fazer a sua parte, já que a história da humanidade nos mostra que muitas mudanças começaram com iniciativas marginais que, depois, tomaram forma.



*Izabel Petraglia é doutora em educação e pós-doutora pelo Centro Edgar Morin, da EHESS, Paris. Professora universitária e autora de livros como Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber (ed. Vozes).



Este artigo sobre o pensamento complexo de Edgar Morin, foi originalmente publicado no site da Plataforma Educação




Sobre o Pensamento de Morin

A principal obra de Edgar Morin é a constituída por seis volumes, "La Méthode" (em português, O Método). Foi escrita durante três décadas e meia. Trata-se de uma das maiores obras de epistemologia disponível. Morin inicia os primeiros escritos de "La Méthode" em 1973, com a publicação do livro "O Paradigma Perdido: a Natureza Humana", uma transformação epistemológica por questionar o fechamento ideológico e paradigmático das ciências, além de apresentar uma alternativa à concepção de "paradigma" encontrada em Thomas Kuhn. Seu primeiro livro traduzido para o português é O cinema ou o homem imaginário, em 1958.



Os sete saberes necessários

Morin afirma que diante dos problemas complexos que as sociedades contemporâneas hoje enfrentam, apenas estudos de caráter inter-poli-transdisciplinar poderiam resultar em análises satisfatórias de tais complexidades:


"Afinal, de que serviriam todos os saberes parciais senão para formar uma configuração que responda a nossas expectativas, nossos desejos, nossas interrogações cognitivas?.”


No livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, Morin apresenta o que ele mesmo chama de inspirações para o educador ou os saberes necessários a uma boa prática educacional.



O pensamento complexo

Complexo vem do Latim complexus, que quer dizer “aquilo que é tecido em conjunto”.



Edgar Morin diz que é sistemático demais possuirmos um sapiens ou dois, em nossa autodenominação; é preciso acrescentar um demens, ficando: Homo sapiens sapiens demens, o que mostra o quanto somos descomedidos, loucos.


Todo homem é duplo: ao mesmo tempo que é racional apresenta certa demência.


Na busca do verdadeiro pensamento complexo de Morin, esbarramos no entendimento de outros conceitos, entre eles, é o de operadores de complexidade:


  • Operador dialógico que é diferente de operador dialético

  • Operador recursivo

  • Operador hologramático


O operador dialógico envolve o entrelaçar coisas que aparentemente estão separadas:


Exemplos:

  • Razão e emoção

  • Sensível e inteligível

  • O real e o imaginário

  • A razão e os mitos

  • A ciência e a arte


Trata-se da não existência de uma síntese. Tudo isto consiste o chamado dialogizar.


O operador recursivo, trata principalmente do fato de que sempre aprendemos que uma causa A produz um efeito B. Na recursividade a causa produz um efeito, que por sua vez produz uma causa.


Exemplo: Somos produto de uma união biológica, entre um homem e uma mulher e por nossa vez seremos geradores de outras uniões.


O operador hologramático, trata de situações em que você não consiga separar a parte do todo. A parte está no todo, assim como o todo está na parte. Esses três operadores são as bases do pensamento complexo. Em resumo temos:


  • Juntar coisas que estavam separadas

  • Fazer circular o efeito sobre a causa

  • Idéia de totalidade: Não dissociar a parte do todo. O todo está na parte assim como a parte está no todo.


Com esses três operadores, você criará a noção de totalidade, mas ao mesmo tempo, criará uma concepção de que a simples soma das partes não leva a esse total. A totalidade (no pensamento complexo), é mais do que a soma das partes e simultaneamente menos que a soma das partes


- Nós somos considerados seres que:


  • Falam;

  • Fabricam seus próprios instrumentos;

  • Simbólicos, pois criamos nossos símbolos, nossos mitos, e nossas mentiras.


O pensamento complexo afirma também que, além disso, somos complexos. Isto porque estamos inscritos numa longa ordem biológica e porque somos produtores de cultura. Logo, somos 100% natureza e 100% cultura.


O conhecimento complexo não está limitado à ciência, pois há na literatura, na poesia, nas artes, um profundo conhecimento. Todas as grandes obras de arte possuem um profundo pensamento sobre a vida. Segundo o próprio Morin, devemos romper com a noção de que devemos ter as artes de um lado e o pensamento científico do outro.



Qualquer atividade de seres vivos é guiada por uma tetralogia. Envolve relações de:


  • Ordem;

  • Desordem;

  • Interação;

  • (re)Organização.


Isto é o tetrálogo organizacional.


Unindo este tetragrama aos operadores de complexidade, temos as bases do pensamento complexo.


Diz Marx:

“Qualquer reforma do ensino e da educação começa com a reforma dos educadores.”

Esta é uma das citações mais utilizadas por Morin quando trata da questão do pensamento complexo e da reforma dos educadores no processo de criação de uma nova educação. A razão cartesiana impôs um paradigma. Ela nos ensinou a separar a razão da des-razão. Temos que religar tudo o que a ciência cartesiana separou, segundo Morin.



Livros de Edgar Morin







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