por Daniela D. Ferro
Aproveitando este momento de retomada de estudos e publicações, e ainda embalada pela poesia e a forma encantada de observar as ruas que a literatura de um jornalista do início do século chamado João do Rio me causou, pensei em compartilhar aqui com voces a experiência que tive na semana passada ao visitar a feira literaria FLIP 2024 em Paraty/RJ, em busca de observar, sob a perspectiva de uma editora independente, este grande encontro de pensadores e produtores de conhecimento, que homenagearam o cronista carioca que souber ler a alma as ruas e dizia.. que a cidade é um palco onde todos são atores fazendo uma metáfora sobre a vida urbana, onde cada pessoa, mesmo sem perceber desempenha um papel essencial na grande alma as ruas.
Não sei se já tive a oportunidade de contar para vocês em algum artigo aqui na revista, mas já fazem mais de 10 anos que escolhi morar em meio a natureza, num vilarejo pequeno na montanha, para experimentar uma nova forma de viver e poder me aprofundar em meus estudos como arquiteta epecialista em medicina da habitação.
Os motivos que me trouxeram para cá foram muitos e em um outro momento vou compartilhar com vocês algumas reflexões sobre essa tomada de decisão que mudou minha vida da água para o vinho, e que está profundamente relacionado com a arte de outrar-se !
A vida aqui onde moro flui em um ritmo diferente, como se estivéssemos séculos atrás. Não tem agencia bancária, caixas eletrônicos e o acesso à internet rápida é um desafio. Fiz uma experência de um período de desconexão total que me colocou em uma situação meio fora do tempo e do espaço por um tempo, para me dar a oportunidade de aprender a observar a sabedoria da natureza sutilizando o corpos mais sutis para trabalhar com harmonização de ambientes nos grandes centros urbanos , podendo fazer uma reconexão dos ambientes com as frequências naturais que proporcionam bem- estar , saúde e maior desenvolvimento cognitivo… pois é! O ambiente pode também nos tornar mais tranquilos e inteligentes se soubermos aplicar o conhecimento científico atual combinado a sabedoria dos antigos sábios observadores da natureza e do desenvolvimento humano.
E entre muitos desafios , mas entre rios e cachoeiras, encontrei uma conexão mais profunda com a natureza , comigo mesma e com a possibilidade de poder experimentar e absorver a sabedoria que a natureza tem a nos transmitir, e poder colocar ete conhecimento em prática para mostara como pode ser aplicada aos grande centros urbanos para melhorar qualidade de vida dos moradores.
Eu pude vir para cá assim que se tornou possível trabalhar digitalmente, e quando encontrei um canto no vilarejo onde a conexão com a rede de internet era pelo menos razoável.
Busquei entender e acompanhar os ciclos das estações seguindo um conhecimento que estava aprendendo nno curso de medicina da habitação e que os antigos druidas praticavam: a observação da natureza, a interação de nossos corpos sutis com as frequências dos ambientes, a observação das sutilizes do psiquismo humano , do funcionamento de nossas tendências e dos automatismos da mente colocando em prática uma reprogramação de hábitos e a compreensão da sabedoria que brota da terra e dos ciclos de vida, morte e renascimento que nos remete a uma espiritualidade muito mais profunda.
Esse estilo de vida se alinha com minha busca em aprender como utilizar a sabedoria da natureza, aprendendo na prática como o ambiente afeta nossa saúde e nossos corpos sutis.
Aqui neste Portal Revista na seção Plus Ultra Natural, pretendo ter um canal para compartilhar esses saberes entre outros estudos que nos ajudem a dar um passo evolutivo no sentido de nos tornarmos um NOVO SER HUMANO.
Os artigos deste blog e das seções das revistas abordam assuntos sobre mitologia, saúde dos ambientes , epigenética, psicogeometria e proporções áureas, estudos do psiquismo humano e desenvolvimento da racionalidade, entre muitos outros, aplicando a sabedoria antiga aos desafios contemporâneos, trazendo conhecimentos que adaptados a novas descobertas científicas estão nos levando a um novo patamar de compreensão sobre quem somos, as origens de nossas tendências e automatismos e como nos tornarmos mais donos do nosso próprio destino ao aprendermos a ter mais controle sobre nossos impulsos.
Estamos em um momento de transformação intensa, enquanto alguma profissões estão desaparecendo outras tantas surgindo e nós tendo que nos adaptarmos. O conhecimento e desenvolvimento humano precisam acompanhar esse movimento para que possamos manter nossa dignidade e desenvolvermos novas formas de ser humano e não ser engolidos pelas máquinas .
Feira Literária de Paraty - Aproveitando oportunidades de buscar conhecimento
A cada dia que passa temos percebido com mais intensidade a grande transformação que estamos vivendo, com uma explosão desordenada de informações, versões manipuladas de verdades, onde a a busca por autonomia intelectual de forma livre se tornaram temas centrais de reflexões e prioridade em nossas publicações, que tem como objetivo observar aa realide que estamos inseridos com um olhar crítico e em busca de soluções.
Foi nesse contexto que aceitei o convite de um amigo músico, que escreveu um livro sobre as turnês de Paul McCartney no Brasil, para acompanhá-lo na Feira Literária de Paraty, onde faria um lançamento com sua parceira da Garota FM Books, uma editora independente que publica os livros de mulheres sobre música brasileira e que enfrentam muitos obstáculos neste mercado com características arcaicas que apresenta dificuldades em se adaptar a nova era digital de transmissão do conhecimento, oferecendo uma resistência comercial e filosófica que muito tem me chamado atenção ultimamente, e foi o que me incentivou a ir observar e praticar o perpectivismo para tentar entender.
E a feira parecia uma oportunidade perfeita para entender como os autores independentes estão se posicionando nesse mercado em plena transformação. Seria também uma chance de refletir sobre a relevância da minha posição como editora e de aprimorar o trabalho com a revista. No entanto, dúvidas e medos surgiram. Será que resgate de conhecimentos antigos para compreendermos melhor sobre quem somos seriam bem recebidos?
As pessoas estão abertas para valorizar esse tipo de saber, ou será que a correria do dia-a-dia e o imediatismo da vida já sufocaram esse espaço de busca em se tornar um ser humano melhor aprofundando o nível de conhecimento sobre a realidade problemática que nos envolve ?
Diferentes realidades em um mesmo evento
Na feira, observei com curiosidade e empatia a luta dos pequenos expositores. Vi as dificuldades de financiamento, a exaustão de montar e desmontar estandes, e a longa espera pelo leitor interessado em conhecer melhor as publicações.
A cidade tem um atmosfera antiga que nos convida a uma viagem no tempo onde encontrei personagens que mereceram atenção, como por exemplo o violeiro em frente à igreja com uma qualidade musical mais autêntica que muitos dos shows oficiais em bares e restaurantes, o que me fez refletir sobre o que define o valor de uma arte ? Quem decide o que merece destaque e reconhecimento?
Ele me lembrou os antigos bardos druidas celtas, só que agora vivendo às margens de uma sociedade que celebra a arte, mas que parece que nem os percebe, sendo que geralmente é entre os esquecidos que a verdadeira alma da cidade se revela.
A cidade, com seu ritmo próprio, era o mentor silencioso da minha jornada, revelando lições de sabedoria nas coisas pequenas e nas almas invisíveis.
Em uma das rodas de conversa, a discussão sobre literatura musical e biografias de artistas da música brasileira trouxe à tona as dificuldades vividas pelas mulheres para conseguirem se adaptar ao mercado e mostrarem que possuem tanto talento para participar deste universo quanto os homens.
A partir dessas experiências, compreendi que estamos vivendo um momento de transição, como João do Rio descreveu ao explorar as transformações urbanas de sua época e que poderia aproveitar a oportunidade para observar como é que os buscadores de conhecimento estão se comportando neste momento de transição e buscar formas de me adaptar a esta nova realidade.
O desafio maior não está apenas em entender como adaptar a revista a esta nova realidade digital, mas em como fazer isso contribuindo com a construção de um novo ser humano que ao conhecer sobre as origens de suas tendências e automatismos poderá escolher as habilidades que quer potencializar e quais impulsos controlar, assumindo assim o controle sobre o próprio destino.
Foi muito gostoso andar pelas ruas fazendo esta viagem no tempo levada pelo encanto da literatura e o amor da busca pelo conhecimento que nunca pode parar , nunca estacionar, achando que já entendeu … e o que percebi é que estamos passando por um novo momento de transição e iniciando uma nova era do conhecimento.
Neste novo momento da revista vamos trazer artigos que nos ajudem a compreender melhor sobre como mergulharmos neste novo momento, aproveitando o que as novidades nos trazem, mas sem perder nossos valores mais antigos que nos norteiam nesta busca.
Assim como os antigos druidas observavam a natureza e compreendiam que tudo sempre tinha ciclos de vida, morte e renascimento, vemos velhos problemas com novos olhos, mas sempre acompanhados da sempre presente vontade de aprender .
E sempre o que mais nos ensina são os acontecimentos simples que mostram as diferentes nuances do psiquismo humano nos levando a entender as diferenças mesmo que somos todos iguais .
Nossa preocupação em mergulhar no antigo para entender as origens do novo não se trata apenas de resgatar o conhecimento ancestral, mas de conectá-lo à vida real observando uma sabedoria que se apresenta dos detalhes … e para um bom observador as ruas da cidade me ensinaram que a busca pelo conhecimento é incessante, e que geralmente se esconde nos lugares menos esperados.
E como lembrança visual dos melhores momentos , conectando às experiências que me ajudaram a entender melhor nosso novo momento de transmissão de conhecimentos e oportunidades de crescimento compartilho com vocês para que podemos manter sempre aquecido este elo entre nossas mentes e nossas compreensões sobre a realidade que nos envolvem.
E vamos que vamos !!!
Para um novo momento de conexão e estudos profundos 😘
João do Rio: O Cronista da Alma Carioca
João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, é um dos escritores mais emblemáticos da literatura brasileira, especialmente quando se trata da crônica urbana.
Nascido no Rio de Janeiro em 1881, ele se destacou como cronista, jornalista e contista, sendo um dos mais sensíveis observadores da vida carioca no início do século XX.
Em 2024, ele é o escritor homenageado na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), celebrando sua contribuição singular para a literatura e o jornalismo do Brasil.
O Cronista da Cidade e da Alma
A obra de João do Rio é profundamente marcada por uma característica: a habilidade de captar a pulsação da cidade e a alma de seus habitantes.
Ele foi um dos primeiros escritores a explorar o Rio de Janeiro como protagonista de suas crônicas, revelando as complexidades de uma cidade em rápida transformação.
Mais do que um cronista dos acontecimentos, ele foi um cronista dos tipos humanos, especialmente os marginalizados, os esquecidos e os excêntricos, trazendo para suas narrativas a vida dos pobres, boêmios, religiosos e pessoas à margem da sociedade.
Seus textos, especialmente as crônicas, capturam a alma do Rio de Janeiro de uma forma que poucos autores conseguiram. Com um olhar afiado e uma curiosidade insaciável, João do Rio caminhava pelas ruas da cidade, observando os cenários urbanos e os comportamentos humanos.
É nesse contexto que surgem obras fundamentais como A Alma Encantadora das Ruas (1908), um de seus trabalhos mais famosos, onde a cidade se torna um ser vivo, pulsante, cheio de mistérios e histórias para contar.
“A Alma Encantadora das Ruas” e a Cidade como Personagem
Em A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio transformou as ruas do Rio de Janeiro em uma personagem central. Ao andar pelas vielas, praças e avenidas, ele descreve com precisão não só os cenários, mas as pessoas que fazem a cidade existir – vendedores ambulantes, mendigos, artistas de rua, prostitutas.
Para João do Rio, as ruas eram um palco onde se desenrolavam pequenas e grandes histórias de vida.
Ele captava o que estava além do visível, revelando uma cidade complexa, repleta de contrastes sociais, culturais e econômicos.
Nessa obra, João do Rio não se limita à observação superficial. Ele mergulha nas camadas mais profundas da vida urbana, expondo a realidade das classes populares e o impacto da modernização.
A cidade que ele retrata é simultaneamente sedutora e brutal, um espaço de oportunidades e exclusão, um reflexo das contradições do Brasil do início do século XX.
A Transformação do Rio de Janeiro
A obra de João do Rio também reflete uma cidade em constante transformação. No início do século XX, o Rio de Janeiro passava por um processo de modernização que incluía reformas urbanas, como o alargamento de ruas, a construção de grandes avenidas e a derrubada de cortiços.
Essas mudanças alteraram profundamente a paisagem da cidade e o cotidiano de seus habitantes, criando novos conflitos e novas dinâmicas sociais.
João do Rio foi um cronista atento a essas transformações. Ele não só registrou as mudanças físicas da cidade, mas também as mudanças de comportamento e valores que surgiam com a modernidade. Seu olhar crítico e observador antecipava questões que seriam debatidas por décadas, como a desigualdade social, a violência urbana e as tensões entre tradição e modernidade.
Diversidade Temática e Estilo
Embora João do Rio seja mais conhecido por suas crônicas urbanas, sua obra vai além. Ele também escreveu contos, reportagens e ensaios que exploram temas variados, como a religiosidade, o espiritismo, a cultura popular e a vida boêmia. Seus textos são marcados por um estilo ágil e envolvente, com uma linguagem moderna que reflete sua formação como jornalista.
Sua obra revela um escritor fascinado pelo comportamento humano e pelas manifestações culturais. No livro Religiões do Rio (1904), por exemplo, João do Rio explora a diversidade religiosa da cidade, investigando o catolicismo, o espiritismo e as religiões de matriz africana. Sua abordagem é ao mesmo tempo jornalística e literária, mesclando pesquisa de campo com reflexões sobre a espiritualidade e a cultura carioca.
O Pioneirismo no Jornalismo Literário
João do Rio também foi um dos pioneiros do jornalismo literário no Brasil. Como repórter, ele introduziu um novo estilo de reportagem, que mesclava narrativa literária com investigação jornalística.
Ele transformou o jornalismo em uma arte, aproximando-o da literatura e utilizando técnicas de descrição e construção de personagens em suas reportagens.
Essa abordagem inovadora pode ser vista em seus textos para jornais e revistas, onde João do Rio não apenas reportava os fatos, mas criava narrativas envolventes, com personagens bem delineados e uma atenção detalhada aos cenários e emoções. Seu trabalho como jornalista foi fundamental para a consolidação da crônica urbana como um gênero literário no Brasil.
João do Rio e a Identidade Carioca
João do Rio ajudou a definir o que podemos chamar de “identidade carioca”. Ele capturou a essência do Rio de Janeiro, uma cidade vibrante, cheia de contrastes e paradoxos, onde convivem o luxo e a pobreza, o moderno e o tradicional, a alegria e a melancolia.
Através de suas crônicas, ele mostrou que a cidade é muito mais do que um espaço físico – é um estado de espírito, uma maneira de ver e viver o mundo.
Sua obra continua relevante porque nos convida a refletir sobre as transformações da cidade e da sociedade. Ela nos lembra que, por trás das grandes reformas urbanas, há sempre histórias humanas que precisam ser contadas.
E que, mesmo em tempos de mudança, a essência da cidade – sua alma – permanece viva.
Legado e Homenagem na Flip 2024
Ao ser homenageado na Flip 2024, João do Rio é reconhecido como uma das grandes vozes da literatura brasileira. Seu legado vai além das páginas dos livros e crônicas: ele nos ensina a olhar para a cidade com mais atenção, a perceber as histórias escondidas em cada esquina e a valorizar a diversidade cultural que define o Brasil.
A homenagem a João do Rio na Flip é também um convite para revisitarmos sua obra e redescobrirmos o poder da crônica como forma de capturar a alma de uma cidade. Sua capacidade de transformar o cotidiano em literatura é uma inspiração para novos autores, jornalistas e cronistas que buscam entender e retratar o mundo ao seu redor.
Em um momento em que o Brasil continua enfrentando questões urbanas e sociais complexas, a obra de João do Rio permanece atual e essencial. Ela nos lembra que, por trás das mudanças que moldam nossas cidades, há sempre uma alma encantadora esperando para ser revelada.
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